OI GENTE!!!! ESTA FOTO DO CARRO FOI DO BLOG , AMO ESTE BLOG TEM CADA FOTO PUNK!!!!
O TEXTO ABAIXO É DO MEU AMIGO ESCRITOS LUIZ BRITTO, OLHA QUE MASSA!!!!TUDO A VER COM O NOSSO MODO DE TORCER!!!!
DA COPA E DOS COPOS
O bravo repórter Chico Azedo foi convidado por Zé Pitomba pra ir torcer pelo Brasil lá na favela Dá Nela e teve uma experiência inesquecível. Os argumentos de Zé Pitomba eram irrespondíveis:
— Você precisa ir lá, Chico. Porque é o povo é que sabe torcer mesmo pelo Brasil, que é patriota… Esse é um povo danado! Um povo que nasceu para o futebol! Pra torcer pelo seu time! Torcer pelo Brasil!
Não é feito esses branquelos amarelos que têm medo de tudo! Não tem fé no seu time! Mas fé, fé mesmo! Porque o Brasil cresce, o Brasil aparece por causa dessa torcida maravilhosa!
—Você precisa ir lá pra ver, meu velho!
E a bebida corre farta, tudo por conta de Tadeu…
Tadeu, o grande bicheiro, o ano inteiro preso em sua fortaleza. Não saia de lá nem em dia de jogo do Brasil. Os guarda-costas, guarda-barrigas, guarda-peitos, guarda-roupas, todos lá, tomando conta do Chefe, pra ele não levar um tiro. Os rivais pululando, todo mundo querendo tomar seu lugar. Mas Tadeu era generoso, comprava caminhões de cerveja, mandava distribuir entre os moradores — os moradores pagando a cerveja por via indireta, pelas pules do jogo do bicho. Zebedeu alegre: era quem comprava e mandava distribuir — embora irmão, ficava com uma parcela no bolso, a título de comissão:
— Quem trabalha de graça é relógio.
Chico Azedo foi e encontrou aquela turma boa. Lindinho da Pavuna, todo arrumadinho e cheiroso, estreando perfume novo, grudado junto de uma televisão e ainda com um radinho de pilha no ouvido, pra ouvir duas transmissões ao mesmo tempo. Era fanático por futebol. O boteco de Nezinho cheio de gente: só dava pra três mas tinha mais de vinte. Que brasileiro só sabe assistir jogo com um copo na mão. Faz parte do jogo. E quando se trata de uma Copa, a bebida ainda aumenta. Tá todo mundo autorizado a encher a cara, fazer o seu fala-pau, ninguém vai trabalhar, os ônibus estão parados, as lojas estão fechadas, feriado total. Os malucos correndo nos carros, que o jogo já vai começar! As baratas tontas todas correndo pra seu boteco favorito — e aí começa o jogo. Aquele festival de porras e bananas.
— Porra! — rosna um.
— Pôôô-rraaaa! — rosna outro, um baixo profundo.
Os jogadores uns pernas-de-pau…
— Não viu essa bola não?
— Rapaz, tava com um gol feito… Porrraaa!
Mais uma cervejinha. Uma talagada boa de aguardente pra animar o torcedor, que esse jogo tá muito sem graça, que o Brasil não tá jogando…
— Assim vai perder…
As mulheres histéricas, dando gritinhos:
— Vai, Naldinho, vai!
Alguém ensinando:
— Aquele não é Naldinho não, é Rosmenil…
Outro pontificando:
— Que Rosmenil! Você não tá vendo não que é Osmundo?
Mulher não entende de futebol. Mulher entende. Mulher não entende.
— Porra!
— Chuta essa bola, seu porra!
— Que banana!
Uma animação total desde cedo. Gente colocando faixas, bandeirolas verdes e amarelas, bandeirinhas do Brasil em tudo quanto é poste, foliões, digo, torcedores entusiasmados, já celebrando a vitória:
— O Brasil é campeão!
Desde a madrugada estavam naquele fogo: ninguém dormiu. Tomando logo umas pra comemorar, todo mundo falando a mesma língua — futebol. Já antecipando o feriado. Ônibus parados no fim de linha, lojas fechadas, a cidade morta. Aquele silêncio de cemitério, todo mundo acompanhando os lances, passo a passo, copo a copo. As eventuais porras. As eventuais bananas.
— Solta essa bola, rapaz!
— Porra!
— Pôôôrrraaa!
As mulheres também soltando suas porras:
— Porra.
A mulher de Zebedeu reclamando:
— Não solte suas porras junto de mim.
Formigão já tinha levado a dele: um tiro na bunda. Tava pendurado no alto de uma escada, pendurando suas bandeirolas — qualquer semelhança com o São João era mera coincidência — e alguém o havia confundido com um ladrão. Alta madrugada, o que é que aquele sacana tava fazendo, pendurado numa escada? Roubando, querendo entrar na casa dos outros…
— Pou!
Chico Azedo animado, tomando notas na cabeça. Só vivia tomando notas mentais. Observava tudo, ficava urubuservando, depois corria para a redação, preparar seus artigos, suas matérias. Queria era entrar na “fortaleza” de Tadeu, mas não pôde. Soube que lá estava entupido de gente. As paredes cheias de bandeirinhas, a cerveja correndo solta, a mesma animação de toda parte. Que o brasileiro dá a vida pelo futebol. Futebol e Carnaval. Carnaval e Mulher. Mulher e Bebida. Bebida e Futebol.
— Saia da frente, porra! Assim eu não posso ver o jogo!
O Brasil perdendo. O povo murcho. Desesperado. Roendo as unhas. Fazendo promessas. Tremendo nas bases. Trêmulos, gaguejantes, batendo queixo, sem acertar a falar, morrendo:
— Tou sentindo uma coisa…
Óbitos. Desespero. Óbitos. Gritos agoniados, as mulheres dando chilique:
— Vai, Naldinho! Vai, meu filho!
— Não é Naldinho, é Rosmenil!
— Não é Rosmenil não, é Naldinho.
O Brasil perdeu. Oh, oh, oh. Os torcedores revoltados. Começam as brigas, as discussões — a culpa é de Rosmenil, não sei o que esse cara fez em campo, tava passeando — discussões mais acaloradas, brigas, os mais exaltados a jogar pedra nos carros que passavam na avenida, nos ônibus, nas casas, nos outros torcedores. Sopapos. Empurrões. Gente bêbada por aí, sem poder dar um passo. Calunguinha, com seu carrinho de mão, a levar seus torcedores pra casa. Os torcedores escornados no carrinho de mão, as pernas de fora, os braços abanando. Um clima de guerra, novos gritos:
— Porra! Pôôôrrraaaa! O Brasil perdeu!!
— Meu Brasil!
As pedras voando.
PS
O bravo repórter Chico Azedo, pra ir pra casa, sair daquele sufoco, teve de ir escoltado. Vinte voluntários acompanhando o amigo de Zé Pitomba até o ponto do ônibus. No ônibus, mais revolta, novas porras e bananas!
demais crônicas no arquivo Crônicas do site www.bahiapress.com.br escrito por LUIZ BRITTO UM APAIXONADO PELA BAHIA!!!!